sábado, 19 de junho de 2010

Toy Story: Amigo Estou Aqui


Eu adoro ir ao cinema. Amo toda a experiência do telespectador se envolver com o filme, torcer pelo herói e odiar o vilão, ver emoções complexas serem transmitidas atráves de um simples ângulo de câmera, de uma expressão no rosto do personagem ou de uma nota musical. Não é a toa que vou quase todo fim-de-semana pegar um cineminha e, com o tempo, isso foi entrando na minha rotina. Semana após semana, eu presencio filmes empolgantes, alguns recheados de ação e outros cheios de diálogos inteligentes, mas era raro que um filme me marcasse. Entretanto, nessa última semana, eu tive a oportunidade de "sofrer" uma emoção dentro da sala de cinema inédita para mim, que me fez relembrar porque eu sou tão apaixonado por essa arte. Essa experiência ocorreu quando fui assistir "
Toy Story 3".

Como muitos devem saber, "
Toy Story" foi feito em 1995 e é considerado um dos primeiros longa-metragens feito completamente em animação digital. O filme virou um fenômeno, deixando todos loucos para ter um Buzz Lightyear na prateleira ou um Caubói Woody na cabeceira da cama. Crianças do mundo inteiro se encantaram com esse universo. Na epóca, era comum ver garotos e garotas sentados na sala de estar das suas casas revendo a fita cassete pela vigésima quinta vez enquanto brincavam no tapete com seus bonecos do Cabeça-de-Batata.


Após "
Toy Story 2" em 1999, abordando o medo do esquecimento que assombra os brinquedos, a Pixar chegou em 2009 anunciando o terceiro capítulo dessa saga que iria abordar, pasmem, a ida de Andy, o dono dos brinquedos, a faculdade e as consequências disso para Buzz Lightyear e Cia. Sinceramente, eu não estava com muita expectativa. O desconhecido Lee Unkrich, co-diretor de "Procurando Nemo", iria assumir a direção e John Lasseter, renomano diretor dos dois primeiros "Toy Story", iria ficar apenas no roteiro junto com Michael Artnd("Pequena Miss Sunshine"). A vontade de ver era tão pouca que, quando cheguei ao caixa do cinema, dei preferência para Kick-Ass mas acabei pegando a sessão de "Toy Story 3" como substituição. Apesar de acidental, escolher um filme para criança e recusar mais um filme de ação foi uma das coisas mais acertadas que eu já fiz.

Quinze anos se passaram desde o primeiro filme e as crianças que viram "
Toy Story" naquela epóca hoje se tornaram universitários e pais de família. Foi particularmente estranho estar presente numa sessão de um filme infantil e constatar que só havia seis crianças entre as sessenta pessoas presentes.As luzes se apagaram e a expectativa do reencontro começou a tomar conta do meu organismo. Os trailers simplesmente passaram, sem que eu prestasse atenção.O filme finalmente começa e é inevitável um sorriso surgir ao ver e ouvir as vozes de velhos amigos como Buzz e Woody na telona mais uma vez. Logo nos minutos iniciais, começa a tocar a tipíca música-tema, "Amigo Estou Aqui", acompanhado por uma sequência de cenas que mostra a infância do Andy atráves de fragmentos de vídeos caseiros. Nessa hora, é impossível evitar a viagem até os tempos de moleque.A emoção bate na goela.

No desenrolar da trama, observamos um filme mais triste que o normal. Os pesadelos que rondavam a turma de brinquedos em "
Toy Story 2" começam a acontecer de verdade. Durante as quase duas horas de filme, eles são esquecidos, doados, mal-tratados e até mesmo jogados fora. Mas isso não quer dizer que não tenha momentos engraçadissimos, como o Buzz Lightyear resetado tomando conta da prisão e o boneco Ben dando recaídas aqui e ali.


Apesar do roteiro ter um aspecto de comida requentada certas vezes, é inegável a qualidade do filme. Após irem parar por acidente na creche Sunnyside, Buzz e Cia. são subjugados pelo urso de pelúcia Lotso e seus comparsas, que os aprisionam, até que Woody cria um plano para resgatá-los. Essa é a basicamente a história do filme. Mas o que chama destaque aqui é o jeito que a história é contada. A referência ao comunismo na hierarquia de brinquedos na creche Sunnyside, o jeito que os corredores da creche mudam de alegres para aterrorizantes com uma mera mudança de ângulo e a utilização de um bebê de brinquedo como brutamontes são algumas das idéias geniais.

Entretanto, a confusão na creche acaba indo mais longe do que se pensava e eles acabam indo parar no Lixão, rendendo uma das cenas mais avassaladoras da película. Próximo do fim do filme e após fazerem de um tudo para poderem sobreviver, a família de brinquedos do Andy acabam indo parar no Aterro Municipal, numa esteira que leva até um forno. Quando a vaqueira Jessie vira para Buzz e pergunta "E agora?", ele apenas segura sua mão. Ao perceber que todos aqueles esforços foram uma tentativa inútil de fugir de um fim inevitável, em vez de tentarem armar mais um plano de fuga, eles apenas seguram as mãos um dos outros e fecham os olhos. Nessa altura, eu já estava a beira de um infarto. Tudo isso apenas para surgir, de repente, uma solução salvadora e brotar um sorriso aliviado no rosto do telespectador.

A melhor parte do filme fica nos últimos trinta minutos. A despedida final dos personagens para com o público é de emocionar até o mais frio dos assassinos. Ver Andy descrevendo os bonecos um por um foi como se nós falassemos atráves dele. Tudo ali, a última brincadeira, o Woody soltando um sonoro"Adeus, parceiro", praticamente tudo me deixava mais encolhido na cadeira com ar choroso. Cada minuto que se passava era um lamento pois era um minuto mais próximo do fim. Entenda, eu sou um jovem moderno padrão, me empolgo fácil e me emociono raramente como todo adolescente, mas ao ver aquelas figuras que me acompanharam desde que me dou por gente tendo um desfecho, encontrando um fim digno, foi uma mistura de emoções extremamente poderosa. Foi como dar o último adeus ao teu melhor amigo, um fim doloroso e delicioso ao mesmo tempo. Quando acabou o filme, eu observei as crianças correndo entre as cadeiras e suspirei, com uma mistura de saudade e inveja daqueles que desfrutam essa coisa maravilhosa que é a infância.


Exatamente por essas experiências únicas que eu comecei adorar o cinema e parabenizo a Pixar por ter dado a mim e a milhões de outras pessoas a oportunidade de acompanhar a jornada desses meros brinquedos que carregaram nas costas os nossos corações durante esses quinze anos.

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terça-feira, 1 de junho de 2010

Sim, eu vi A Estrada.


Mal chegamos no meio do ano e eu já vi muitos filmes que eram longamente esperados pela crítica. "Homem de Ferro 2", "Alice no país das maravilhas" (decepcionantemente bobo) e "Robin Hood" (chato ao extremo).


Sem exageros, posso garantir que o melhor que eu ví até agora foi "A Estrada", que é baseado em um romance homônimo de Cormac McCarthy (mesmo autor de "Onde os fracos não tem vez).

O filme é uma poesia gigantescamente cruel. Quer entende-lo? Imagine "2012". Agora tire um punhado de cenas de ação bobas e troque por diálogos inteligentes e momentos de tensão que prendem o espectador de maneira incrível. Pronto, temos "A Estrada", o maior épico sobre o apocalipse do cinema contemporâneo até agora.

Aqui, o fim do mundo não é mostrado. Vemos o que acontece depois dele, como os poucos traços de humanidade vão sumindo, e dando lugar a bestialidade natural que nós temos ao passar por grandes dificuldades.Será que somos capazes de matar nossos filhos para que eles não sofram? Somos capazes de comer outros humanos vivos para não morrer? O que define o "mocinho" e o "bandido"? Essas perguntas são constantes nesse filme. Nunca o lado selvagem do ser humano foi retratado de maneira tão bruta e irracional.

Assim, o filme transcorre sem trama própria, sem objetivo, lembrando um pouco os filmes "malucos" de Kubrick. Mas aqui, a "falta de rumo" tem explicação óbvia: Se o mundo acabasse, em uma visão realista, o seu único objetivo seria sobrevivência imediata e sem lógica mundana.

O australiano John Hillcoat faz da própria sobrevivência uma aventura, e, para retratá-la, se utiliza de poucos personagens. Um pai (Viggo Mortensem) e seu filho (Kodi Smith-McPhee ). Os dois não tem seus nomes retratados e, intragem com pessoas em poucas ocasiões, geralmente curtas. É o tipo de história que não funcionaria em mídia alguma, ou seja, foi moldada para ser uma grande filme.

A fotografia impecável, lembra, inclusive, os desenhos de Steve Epting quando são magistralmente coloridos por Frank D'amarta ( a dupla de arte de "Capitão América"). Cores homogêneas, que mudam pouco no decorrer da história os tons de cinza e preto que passam pela paisagem. Uma estética arriscada em hollywood, mas que funciona aqui perfeitamente. No único momento do filme em que os tons são felizes e claro (um flashback) sentimos um contraste gigantesco, daqueles que geram "luzinhas" em nossos olhos. Era o que a equipe de arte queria, obviamente, nos forçar a entender como a mudança do homem altera a natureza do meio, e vice versa.

Esse flashbacks, aliás, são o ponto chave do filme. Charlize Theron interpreta a mãe (também anônima) que prefere abandonar o filho e o marido a viver naquela situação. Theron mostra uma fúria perante a injustiça da situação tão grande que não tenho medo de falar que ela ofusca Mortensem em inúmeros momentos do filme. Os outros coadjuvantes, embora tenham participação pequena, se saem muito bem também.

Talvez o único problema do filmes esteja nas situações em que os coadjuvante são lançados, que parecem um pouco desconexas se forem colocadas em uma linha de tempo comum. Nada que prejudique um filme fantástico, mas que me impede, pro exemplo, de dar a nota máxima.

Então, fica aqui a dica. Fuja desses blockbusters que prometem revolucionar e no fim são só historinhas inocentes e mamão com açúcar (Alice...). A Estrada é, possivelmente, um dos melhores filmes de 2010 e deve ser visto de imediato!

Nota: 9,8

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