sábado, 4 de dezembro de 2010

Queria ser triste.

Falar que somos escravos da sociedade, que dependemos de valores e aparências pré-moldadas é chover no molhado. Na verdade, esse problema é menor que nós pensamos e mais ignorável também. Somos presos a correntes sociais eternas e inquebráveis, pela necessidade animal de vivermos em sociedade, de compartilharmos algo com outro grupo mesmo que ele seja minúsculo e insignificante.


Mas como já disse, isso é chover no molhado. Essas correntes nunca irão acabar e dissertar linhas e linhas sobre isso é perda de tempo. O grande problema é que vivemos em uma sociedade onde o pensamento positivo impera, onde o negativismo foi banalizado e o sorriso, mesmo que forçado, tem que ser posto na frente de tudo.

Livros de auto-ajuda, comédias românticas com final feliz...Tudo está armado para você sempre esperar o melhor mesmo que o melhor não venha. Quando uma pessoa está triste, cabisbaixa, ou simplesmente reflexiva ela deve simplesmente mudar de temperamento na hora, mesmo que não o queira. Isso não seria uma espécie de escravidão mental indiretamente induzida?

Na própria cultura pop, que nós tanto amamos, esse caos impera. Como já citei, comédias românticas (de cunho artístico duvidoso) onde impera o positivismo e as "boas mensagens" podem não agradar a todos, mas nas saídas dos cinemas os comentários são quase sempre mais positivos que em filmes mais artísticos e sombrios, como por exemplo o já clássico "Onde os fracos não tem vez" dos irmãos Coen. Na película, não temos um final feliz, e sim um final sombrio mas bem próximo do que seria a realidade. Os comentários do público em geral foram negativos.

Sem querer parecer marxista demais, mas é óbvio que isto está relacionado a cultura do "sonho americano", aquela onde com seu próprio suor o heróis sai da lama a glória, e acaba com tudo bem. Onde finais tristes e pensamentos tristes são sinônimos de depressão, de doença que precisa ser curada já com a sua irritante mania de terapias e medicamentos. Nós como "escravos" da globalização, recebemos essa cultura anexada ainda a nossa própria cultura nacional do "deixa pra lá". Então nós brasileiro temos a obrigação de ser sempre sorridentes, alegres, dançando aos montes, relacionando sempre a tristeza e o negativismo a coisas de certa forma, hediondas.

Na história da humanidade, muitas coisas foram travadas, muitas ideologias foram travadas. Diversas universidades e diversos grupos de estudo gastam tempo estudando esses fenômenos, mas não pensam que existe algo muito maior cobrindo tudo isso, existe um sentimento, UM SENTIMENTO, sendo travado. E travar um sentimento é muito maior do que travar uma ideologia. Travar um sentimento é cortar nossos vínculos com a humanidade.

Sejam felizes. Sejam tristes. Mas sejam humanos. Não esqueçam de sorrir, chorar ,sentir, por que isso faz parte da vida. Não deixem que o mundo ao seu redor controle o que vocês sentem.

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sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Scott Pilgrim: O Épico dos épicos

A adolescência humana é um dos acontecimentos mais intensos e insanos que se tem notícia. Um turbilhão de sentimentos e pensamentos que começam a aflorar nos corpos maduros de adultos em fase de transição. Todo jovem passa por certas coisas como os namoricos envergonhados, as tardes em frente ao videogame, as tensões em resolver os problemas do dia-a-dia, os ensaios na garagem alheia e as festas homéricas com os amigos. E todos esses pensamentos desembocam em "Scott Pilgrim Contra o Mundo", o filme que finalmente conseguiu sintetizar todos esses devaneios adolescentes em uma película.

No frio inverno de Toronto, o canadense Scott Pilgrim(Michael Cera) é baixista de uma banda indie, chamada Sex Bob-Omb, e divide o aluguel de uma casa com o homossexual Wallace (Kieran Culkin). Entre os ensaios da banda e uma leve paquera com a colegial nipônica Knives Chau (Ellen Wong), Scott se apaixona à primeira vista pela misteriosa americana Ramona Flowers (Mary Elizabeth Winstead) e decide namorá-la, mas, primeiro deve enfrentar a Liga dos Sete Ex-Namorados do Mal. A partir daí, o filme toma proporções titânicas, trazendo combates ao melhor estilo 16-bits e várias referências pops a jogos, seriados e filmes.


Numa primeira olhada, o filme pode parecer bastante surreal. Em certos momentos, o magrelo Scott Pilgrim adquire poderes quadrinescos empregados em derrotar sua recém-adquirida galeria de arqui-inimigos, como guitarristas alienígenas e indianos pirocinéticos. As lutas apresentadas no filme possuem um visual bastante inspirado nas histórias em quadrinhos e nos jogos de fliperama, chegando ao cúmulo de surgir moedas toda vez que algum adversário é derrotado.

Dentro do filme, existe uma fusão entre a música indie e os games de 16-bits que se estende para todo o resto da narrativa. As canções apresentadas pela fictícia banda Sex Bob-Omb são tão barulhentas quanto rebuscadas, bebendo bastante das tendências atuais. Grande parte da trilha sonora teve a mão de Brian LeBarton, tecladista e diretor musical da banda Beck, famosa entre os apreciadores da cultura indie.


Na trama, somos apresentados à figura misteriosa de Ramona Flowers, um nome já associado ao azar, graças ao longo período de tempo onde as rádios se recusavam a reproduzir musicas com esse título. A medida que a narrativa transcorre, vemos o "heróico" Scott Pilgrim ludibriar sua ex-namorada apenas para ficar com Ramona, porém, para isso, ele passa por uma série de problemas e complicações. Quem nunca sonhou em resolver as dificuldades da vida como os super-heróis fazem? Surrando o cara mal, resgatando a mocinha e salvando o dia? Mesmo assim, nada é tão simples assim e o protagonista paga pelas suas escolhas precipitadas.

Na direção, o britânico Edgar Wright demonstra uma paixão pulsante pelo seu trabalho, apresentando uma linguagem rápida, mas que não é confusa, o que casa bem com a geração atual que cresceu no meio de celulares e computadores. A montagem das cenas é excepcional, digna de ser documentada e distribuída nas salas das faculdades de Áudio Visual. O elenco, inspirado, é repleto de figuras pouco conhecidas pelo público, mas extremamente competentes. O protagonista Michael Cera entrega sua melhor performance, mostrando que nasceu para interpretar Scott Pilgrim. Dentro da Liga dos Ex-Namorados, temos super astros como Chris Evans e Brandon Routh, que aparecem pouco mas fazem bonito.


Baseado nos quadrinhos homônimos, "Scott Pilgrim Contra o Mundo" é a síntese da adolescência em frames, misturando toda a cultura pop de games, filmes e clichês românticos em um único filme. Assim como o autor da obra original em quadrinhos, Bryan Lee O'Malley, o diretor mostra que a vida é dividida em fases, como um jogo de videogame, e que não importa o número de vezes que você morra ao enfrentar o chefão, sempre existirá uma vida extra para você tentar outra vez. Fique com o trailer do filme mais épico de todos os tempos:


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