sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A Origem: O Sonho é real.



Certa vez, um pensador falou: "Não importa quanto tempo passe, o maior adversário do homem sempre será ele mesmo". O ser humano tem como obrigação natural desbravar tudo que lhe desafia a lógica. Colonizamos continentes selvagens e mapeamos as estrelas, porém, nós nunca conseguiremos controlar nossa mente por inteiro. Não se pode dar fronteiras ao subconsciente nem se explicar cientificamente a imaginação. O homem tem medo do que não conhece e faz parte d'A Origem do homem temer o seus monstros interiores. E é desse ponto que o novo filme de Christopher Nolan começa.

Nolan é um dos grandes nomes do cinema moderno, que entrega ao seu público não apenas bons filmes, mas experiências, que continuam fora da sala de cinema. Com "Amnésia", ficamos tão perdidos quanto o protagonista ao vermos suas memórias embaralhadas. Com "O Grande Truque", somos alvo de um truque de ilusão orquestrado durante o filme inteiro. Com "Batman", sentimos o pesar de Bruce Wayne, acompanhamos sua jornada de homem que se torna lenda e somos postos à prova com as piadas insanas do Coringa.E aqui, com A Origem, Nolan nos entrega seu melhor trabalho, que nos faz pensar e criar nossas próprias teorias. Em um pouco mais de duas horas, o filme insere nas mentes da platéia uma série de idéias e nos faz sair do cinema nos perguntando: "Será que estou sonhando agora?"


O filme é, acima de tudo, uma ficção científica. A história contada se passa em um terreno pouco explorado até hoje, o mundo dos sonhos, e para defini-lo se estabelece regras nesse universo imaginativo. Regras que, durante a trama, são utilizadas para causar um conflito. Um bom exemplo disso é o conceito do tempo passar mais devagar nos sonhos. Afinal, quem nunca sonhou que viveu por horas e, quando acordou, percebeu que havia passado apenas cinco minutos?

Apesar disso, o que mais chama atenção do filme não são as situações criadas graças ao mundo dos sonhos, mas, sim, o percurso percorrido pelos personagens. Logo no início do filme, vemos um homem aparecer perdido em uma praia. Esse homem é Dom Cobb, o protagonista do filme e o centro de todas as teorias sobre A Origem.

Dom Cobb(DiCaprio), exímio ladrão de sonhos, vive uma vida de arrependimento após a morte de Mal, sua esposa, até que um empresário contrata seus serviços, oferecendo como pagamento a volta dele para casa. O personagem Cobb não é épico e não apresenta nenhum traço marcante, mas é impossível não se cativar por ele e sua jornada. Como todo protagonista dos filmes de Nolan, aqui ele mostra ao telespectador um homem comum, arrependido e assombrado por um passado nebuloso, tentando consertar à todo custo os seus erros. Ao contrário de Matrix, aqui o "mundo alternativo" não funciona como prisão, mas como uma chance de redenção. A Origem não é sobre um grupo de ladrões atrás de fazer um trabalho ou é sobre uma aventura no mundo dos sonhos. Esse filme é sobre Dom Cobb e sua busca desesperada pelo seu retorno para casa. E é fascinante o jeito que Nolan nos cativa e nos emociona, mostrando os percalços de Cobb para fugir de seu remorso, personificado no mundo dos sonhos como a Mal. É isso que nos assombra em A Origem. No mundo dos sonhos, os nossos arrependimentos ganham forma e tentam nos consumir.


O cinema de Nolan não é o mais perfeito, mas agrada facilmente qualquer um. Seu estilo, inspirado nos thrillers Hitchcockianos, carrega uma carga de terror e noir. Na maioria dos seus trabalhos, Nolan nos mostra cenas ou momentos em específico que funcionam como símbolos dentro de suas tramas. Em "Batman - O Cavaleiro das Trevas", na cena em que Coringa está pendurado de ponta-cabeça, a câmera se inverte e fica também de cabeça para baixo, só para representar que aquele é o jeito que o Palhaço do Crime vê o mundo, de cabeça para baixo. Em A Origem, ele repete isso, transformando coisas extremamente pequenas, como um pião girando ou uma taça se quebrando, em símbolos que fazem o telespectador esbugalhar os olhos e grudar na cadeira.

A trilha sonora do filme também merece destaque. O competentissímo compositor Hanz Zimmer, que já trabalhou com Nolan em Batman, nos apresenta melodias frenéticas nas horas de colapso e músicas ao piano em momentos-chave. Os últimos minutos do filme, acompanhados por um piano delicado, são de perder o fôlego de tão bem tratados. Agora, sobre a música-tema da trilha sonora, Zimmer colocou uma surpresa:



A música-tema da trilha sonora do filme é, na verdade, a versão em rotação baixa de "Non, Je Ne Regrett Rien", música que os viajantes dos sonhos usam quando estão dormindo para sincronizar a hora de acordar! Isso tudo foi apenas para nos dar a sensação de que estamos no mundo dos sonhos!

Agora, sobre o elenco, o filme está recheado de uma grande diversidade de atores extremamente competentes. Entretanto, temos que dedicar um espaço para Leonardo DiCaprio. Se DiCaprio chamou a atenção do mundo em "Titanic", ele atinge com louvor a maturidade como ator interpretando o "naufragado" Dom Cobb. Chega a ser irônico, já que Jack morreu após o navio afundar e Cobb surge perdido em uma praia, carregado pelas ondas. Em A Origem, DiCaprio interpreta na medida certa o papel de homem em conflito interno. Ao contrário de "Ilha do Medo", onde DiCaprio interpretra papel semelhante, aqui nós realmente vemos, de forma genial, o caminho traçado por um homem para combater seus arrependimentos.

Quando o filme termina, o telespectador se sente despertar, como se tivesse acabado de levar um Chute. A Origem é um sopro de criatividade em Hollywood e mostra que não é só de explosões que se faz bons blockbusters. Venha, compartilhe o sonho também! Ou quer se tornar um velho, cheio de arrependimento, esperando sozinho pela morte?

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