terça-feira, 2 de março de 2010

Crônicas do Capitão!

Aê galera, aqui vai mais uma "Crônica do Capitão".Essa foi inicialmente postada no "Laís and Barbara".

Espero que curtam!

Glória.

Garotos e garotas caminham pela praça.

Idade boa pra quem não é bom. A mágica da adolescência está justamente na falta de pureza se transformar em paixão.

Eu, infelizmente, não pertenci a essa classe.

Minha adolescência não aconteceu. Muito menos minha infância.

Hoje sou um dos homens mais importantes da nação e ainda lembro disso.

Me esqueci de me apresentar, claro.

Meu nome é Sebastião Fonseca da Silva Magalhães, conhecido popularmente por “Tião”. Sou o líder do grupo “Boinas negras”, nós levamos uma ultima resistência esquerdista para um Brasil que se esqueceu de suas origens.

O ano de 2020 foi tenebroso para nós. Com a morte de Lula, nosso antigo líder, os direitistas tomaram o poder e toda a nossa sonhada “democracia popular” foi pro ralo. Movimentos esquerdistas fortes começaram a surgir, mas os “Boinas negras” foram os maiores.

Estou indo pra guerra. Não sei se vou viver.

Fechamos o Tocantins e o Piauí. As tropas brasileiras estão vindo em instantes.Da minha torre de comando, vejo alguns poucos milhares de Boinas Negras prontos pra morrer por mim.

Aliso minha barba longa constantemente e lembro da minha infância. Do meu pai fugindo de casa, da minha mãe morrendo de overdose. Da adolescência sofrida, morando com a tia e estudando em colégio nobre, mesmo não sendo tão nobre assim.

Lembro das mulheres que zombavam de mim. Lembro da falta de amigos. Hoje eles são bancários, médicos, advogados, enquanto eu, bem, eu estou na história.

Mas isso não muda nada. Tenho que me apresentar.

Saio na torre e faço a saudação. Os soldados vão ao delírio.

Eles vão morrer e sabem disso. Mas nós não queremos ganhar. Se ganharmos, o máximo que ganharemos são dois estados que logo irão se revoltar contra nós, pois não temos condições financeiras de sustentá-los e protegê-los.

Precisamos é de comoção. Precisamos é perder de maneira honrosa, precisamos manter a revolução acesa, pois aí estaremos sempre vivos.

Lembro de honra e glória. Mas essa última parece soar de uma maneira tão mais doce...

As balas estão começando a pipocar no muro, sinto o calor do sangue de meus amigos jorrando.

Não sei o que fazer, não sei pra onde ir. Sei que eles não terão piedade quando chegarem aqui.E prefiro morrer a ser prisioneiro político.

Mas também não quero colaborar, vou insistir até o fim. Se não der, não deu.

Minha única tristeza é que só me lembro da minha adolescencia...

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